Entre tristeza e apatia
Depressão num mundo deprimido
Como enfermeira atendo talvez cerca de 20 a 30 pessoas por dia, entre pacientes e familiares. Recebo-os à porta e enquanto observo a caminhada no corredor, olho sempre para a expressão que trazem no rosto. Inicio a consulta sempre com a mesma pergunta “Então como está?” ou “Como tem passado?”. Maioritariamente a resposta é sempre a mesma “mal”. No entanto, no nosso dia a dia, quando alguém nos pergunta como estamos, a resposta é automática “está tudo bem”.
A diferença destes 2 cenários é uma só. São as mesmas pessoas, na primeira estão num local que acolhe a vulnerabilidade e dá margem para a transparência; na segunda estão na vida real com um condicionamento social de camuflar sentimentos e manifestação dos mesmos.
O “não me apetece” passou a rotina. A tristeza e apatia também. Sinto que as pessoas em geral se habituaram a um estado dito normal de mau estar, já nem sabem porquê ou o que fazer para mudar. Fingem momentos sociais ocasionais de alegria, para depois voltar ao vazio. Não me admira olhar as taxas globais de depressão e penso quantos não estarão por diagnosticar.
No outro dia, enquanto “rolava” as notícias, vi que no primeiro mês que a Linha de Prevenção de Suicídio funcionou em Portugal, atendeu mais de 2 mil pessoas. Sim, isso mesmo, 2 mil. Impressionante, não é?
Mantenho-me observadora, atenta ao ambiente que me envolve e tento sempre, fazer a diferença com cada pessoa que chega a mim. Dá o primeiro passo.